A palavra é a matéria-prima da literatura, isso nós bem sabemos. O que muitos talvez não saibam, é que a palavra exige, de quem com ela lida, uma luta hercúlea para extrair dela a realidade. Em “Saudade que gosto de ter,” a poetisa Maria Soleny Silva Oliveira extraiu com o mais puro sentimento, a realidade sertaneja.


O livro de Maria Soleny é um verdadeiro passeio pelas raízes da cultura nordestina centrado no modo de vida do sertanejo. A escritora usa uma linguagem regional de modo a destacar os costumes e estilo de vida do homem e da mulher do sertão e agreste nordestinos.


OS poemas que compõem Saudades que gosto de ter nos remetem a memórias vivas e intensas de um nordeste caboclo, de gente simples e religiosa como nos mostra Antônio, o rezador, “homem de fé e devoção que carregava no pescoço, rosário de pedrinhas.”


A linguagem de Maria Soleny é uma linguagem interativa, que conversa com o leitor através de silepses e anáforas em uma fantástica mistura de figuras de estilo.


Saudades que gosto de ter está inserido em uma realidade sociológica que retrata nosso povo de uma maneira fidedigna em suas relações social e cultural. É um livro edificado na cultura raiz da nossa gente; e parodiando João Cabral de Melo Neto, eu diria que Maria Soleny, assim como a aranha, “teceu cortinados com o fio que fia” a vida simples e tranquila de uma gente sofrida, mas não resignada com as tribulações que a vida lhe impõe.