Por Bepe Damasco
Merece atenção uma mensagem publicada pelo juiz Rubens Casara em seu twitter: “O empobrecimento subjetivo, que também leva à regressão do Eu, faz com que o brasileiro busque identificação com políticos, artistas, pastores, padres, comediantes e outras figuras públicas a partir daquilo que os une: a ignorância. Perdeu-se a vergonha de ser ignorante ou burro.”
Casara acertou na mosca: a onda obscurantista que varre o país pode ser comparada a uma espécie de epidemia galopante de burrice. Até há pouco tempo, era comum numa roda de amigos ouvir expressões do tipo “sou apolítico” ou “nada entendo de política, por isso não vou opinar” ou ainda a frase-síntese da alienação: “política, religião e futebol não se discutem.”
Se essa autoexclusão das pessoas do debate político revelava um preocupante déficit de consciência cidadã e participação democrática, hoje observamos um fenômeno inverso. Todos têm opinião pronta e acabada sobre política, mesmo que jamais tenham lido uma linha a respeito, mesmo sem terem visto um filme sequer capaz de lhes fazer saltar a veia crítica, mesmo que sistematicamente seus ouvidos estejam bloqueados para ideias e argumentos fora da mediocridade do senso comum.
É inescapável a constatação de que só um país profundamente ignorante e doente de ódio pode eleger um boçal do calibre de um Bolsonaro. E que fique claro: não me refiro à educação e cultura formais e eruditas. Lula, o melhor presidente da história do país, não tem curso superior, mas sempre demonstrou capacidade para discutir qualquer tema com os doutores que dão as cartas na política há mais de 500 anos. De Inteligência acima da média, Lula, além de um comunicador inigualável, tem sua genialidade política reconhecida até por adversários.
O meu ponto principal é o analfabetismo político que assola inclusive boa parte das classes média e alta, gente que teve acesso à universidade, mas segue iletrada e incapaz de deixar de raciocinar de forma simplista e binária. Não há como fazê-la entender que seu ódio aos pobres só alimenta uma sociedade vergonhosamente desigual e excludente, cujos índices de criminalidade crescentes se voltam contra a própria elite.
Enquanto os bem-nascidos se limitam a repetir os chavões e mantras reacionários do oligopólio da mídia, na parte de baixo da pirâmide os pastores charlatães, apresentadores de programas populares de televisão e o patrão antipetista até a raiz dos cabelos cuidam de fazer a cabeça do povão, naturalizando a violência contra pobres e negros. Pronto, está criado o terreno fértil onde vicejam levas e levas de políticos canalhas, que se elegem com o voto popular para depois colocarem seus mandatos a serviço dos ricos e do roubo dos direitos da maioria.
E neste oceano de estupidez muitos perderam qualquer constrangimento de expressar falta de conhecimentos básicos sobre o que estão falando ou escrevendo nas redes sociais. Babam contra a Lei Rouanet, mas se perguntados sobre o que ela significa emudecem; veem comunismo na própria sombra, mas desconhecem os fundamentos mais elementares dessa ideologia; confundem bandeira de partido com bandeira nacional; tacham a Venezuela de ditadura, mas ignoram que é o país da América Latina que mais realizou eleições na última década; esconjuram Cuba, mas não têm a menor noção dos avanços sociais extraordinários da ilha revolucionária. Ah, e o supra sumo da ignorância da história : eles estão convencidos de que o nazismo foi de esquerda.
Esse quadro ajuda a entender porque na campanha eleitoral os fake news bolsonaristas mais absurdos e grotescos influenciaram tantos eleitores. Afinal, só um completo imbecil pode dar crédito ao “kit gay” ou às mamadeiras simulando a genitália masculina.
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