Passei por uma loja que vendia roupa
"plus size" para mulheres. Levei algum tempo para entender o que era
"plus size". "Plus", em inglês, é mais. "Size é
tamanho. Mais tamanho? Claro: era uma loja de roupas para mulheres grandes e
gordas, ou com mais tamanho do que o normal. Só não entendi isto logo porque a
loja não ficava em Miami ou em Nova York, ficava no Brasil. Não sei como seria
uma versão em português do que ela oferecia, mas o "plus size"
presumia 1) que a mulher grande ou gorda saberia que a loja era para ela, 2)
que a mulher grande ou gorda se sentiria melhor sendo uma "plus size"
do que o seu equivalente em brasileiro, e 3) que ninguém mais estranha que o
inglês já seja quase a nossa primeira língua, pelo menos no comércio.
A invasão de americanismos no nosso
cotidiano hoje é epidêmica, e chegou a uma espécie de ápice do ridículo quando
"entrega" virou "delivery". Perdemos o último resquício de
escrúpulo nacional quando a nossa pizza, em vez de entregue, passou a ser
"delivered" na porta. Isto não é xenofobia nem anticolonialismo
cultural americano primário, nem eu acho que se deva combater a invasão com
legislação, como já foi proposto. O inglês, para muita gente, é a língua da
modernidade. Todos queremos ser modernos e, nem que seja só na imaginação, um
pouco americanos. E nada contra quem prefere ser "plus" a ser mais e
ter "size" em vez de altura ou largura. Só é triste acompanhar esta
entrega - ou devo dizer "delivery"? - de identidade de um país com
vergonha da própria língua.
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