A futura privatização da Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) está numa consulta pública de
reestruturação do setor elétrico que o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou
no seu site ontem. A intenção do governo federal é fazer novas concessões por
um prazo de 30 anos, privatizando as geradoras que tiveram as suas concessões
prorrogadas pela Lei Federal 12.783 de janeiro de 2013, como é o caso da
estatal nordestina.
Ainda na proposta, “a privatização de
empresas com geradoras na Bacia do São Francisco” teria um componente
adicional. Parte dos recursos obtidos com a concessão seria usado na
recuperação do Rio São Francisco. As principais hidrelétricas da Chesf estão no
Velho Chico.
“Foi uma surpresa. Vamos fazer uma
resistência contra o desmonte da empresa. Tomamos conhecimento disso pela
imprensa”, diz o diretor do Sindicato dos Urbanitários de Pernambuco e
secretário de energia da Federação dos Urbanitários do Nordeste, Fernando
Neves. Ele participa hoje de uma reunião, no Rio de Janeiro, com diretores e
representantes dos trabalhadores de todo o sistema Eletrobras, que pertence ao
governo federal e é dono da Chesf, Eletronorte, Eletrosul e Furnas, todas
geradoras de energia.
Fernando se diz contra a privatização
porque acredita que esse é o primeiro passo para a precarização dos empregados
da Chesf e também porque não acredita que o serviço (a geração de energia) vá
melhorar com a entrada de uma empresa privada.
A proposta do governo federal foi
anunciada depois da imprensa noticiar que a Chesf colocaria à venda 13 ativos –
incluindo parques eólicos e linhas de transmissão – para arrecadar recursos a
serem usados em obras inacabadas. Segundo informações da Chesf, a empresa teria
que arrecadar cerca de R$ 2 bilhões para concluir cerca de 100 obras
inacabadas.
O presidente da Chesf, Sinval Zaidan
Gama, afirmou que, ao lançar a proposta, a intenção do governo federal é
recolher contribuições, com críticas e comentários da população, para depois
fazer uma reestruturação do setor elétrico. As contribuições podem ser enviadas
pelo site do ministério (http://www.mme.gov.br) até o dia 04 de agosto. As
propostas do novo marco legal do setor elétrico têm que ser aprovadas pelo Congresso
Nacional e sancionadas pelo presidente da República para serem implantadas.
Quando foi entrevistado, Sinval sabia
da consulta pública, mas não tinha lido o seu conteúdo. “É muito pouco provável
que o governo federal pense em privatizar a Chesf que é uma empresa importante
para o Nordeste e está em fase de saneamento”, conta. A reportagem do JC entrou
em contato com a assessoria do ministro Fernando Coelho Filho, que não atendeu
a reportagem.
DESMONTE
A Chesf está numa situação difícil. A
atual receita da empresa é de cerca de R$ 3,5 bilhões por ano, só que as
despesas também são de aproximadamente R$ 3,5 bilhões por ano. A empresa está
realizando um Programa de Desligamento Voluntário, incentivando o desligamento
de funcionários para diminuir os seus custos.
A estatal era uma das maiores
empresas do Nordeste e uma das mais lucrativas do Sistema Eletrobras. No
entanto, em setembro de 2012, a então presidente Dilma Rousseff (PT) lançou a
Medida Provisória 579 (que depois veio a ser a Lei 12.783) com o objetivo de
reduzir em 20% a conta de energia dos brasileiros, o que não chegou a ocorrer.
Na época, a Chesf foi responsável por 60% da energia que passou a ser vendida
mais barata por causa dessa lei, o que fez a empresa perder muita receita.
Somente para o leitor ter uma ideia, a estatal vendeu o megawatt (MW) por R$
38, enquanto outras geradoras estavam comercializando o MW entre R$ 150 e R$
160, em março último.
Não é a primeira vez que o
governo federal tenta privatizar a Chesf. No começo dos anos 2000, o então
presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), anunciou a privatização da estatal
e os recursos gerados com a venda seriam usados na Transposição do Rio São
Francisco. Essa possibilidade fez as principais lideranças da região se unirem
e a União desistiu da ideia.
Via PE Notícias
0 Comentários