A
Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), da Polícia Civil do
Distrito Federal (PCDF), informou que a quadrilha investigada na segunda etapa
da Operação Panoptes, deflagrada nesta segunda-feira (30/10/2017), tentou
fraudar concursos públicos e vestibulares de todas as bancas, não se
restringindo apenas aos concursos promovidos pelo Centro Brasileiro de Pesquisa
em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) – o antigo Cespe, da
Universidade de Brasília. Há suspeitas de que eles tentariam fraudar também o
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas até o momento isso ainda não foi
oficialmente confirmado.
De acordo com os
investigadores, no caso de vestibulares, a quadrilha cobrava entre R$ 80 mil e
R$ 160 mil. Já no caso dos concursos públicos, o valor cobrado era de 20 vezes
o valor do salário a ser recebido. “Muitos davam um sinal entre R$ 10 mil e R$ 20
mil e, depois de assumirem o cargo, faziam empréstimos consignados para pagar o
restante”, explicou o delegado Maurilio Coelho Lima, da Delegacia de Repressão
ao Crime Organizado (Deco).
Segundo o delegado-chefe
adjunto da Deco, Adriano Valente, o chefe da quadrilha é Hélio Ortiz, preso
desde a primeira etapa da operação. “Eles tentavam fraudar todos os concursos,
não apenas o Cebraspe. Todas as bancas de todos os concursos sofreram
tentativas de fraudes. Todos serão objetos de medidas mais duras pela Polícia
Civil do Distrito Federal”.
Até o final da manhã de
hoje (30), três dos cinco mandados de prisão preventiva já haviam sido
cumpridos. Um deles é Ricardo da Silva Nascimento, um ex-funcionário do
Cebraspe que já havia sido demitido por suspeitas de participação nessa
organização. Ricardo trabalhava no Cebraspe desde 2014, e vinha sendo
investigado desde 2016.
“É muito importante frisar
que o Cebraspe não participa dessa organização criminosa, e que vem colaborando
desde o início, trazendo todas informações necessárias para que pudéssemos
pedir a prisão preventiva do Ricardo, que era responsável por digitalizar os
gabaritos das provas”, disse o delegado Valente.
Valente informou que só
nas contas de Ricardo foram movimentados cerca de R$ 1 milhão com essas fraudes
em 2016. “Ele recebia o gabarito e, antes de digitalizá-los, preenchia as
questões com a resposta correta”, acrescentou.
De acordo com o delegado,
também foram alvo de prisão preventiva Weverson Vinícius da Silva que, segundo
os investigadores, aliciava candidatos a pagarem pela aprovação. Valente citou
o nome de outras duas pessoas – Alda Maria de Oliveira e Milson Iran da Silva –
que, por terem colaborado com as investigações, já foram colocadas em
liberdade. “Eles aliciavam candidatos voltados a vestibulares, em especial para
o curso de medicina”.
Segundo o delegado Lima,
da Deco, os criminosos não tinham o menor pudor para oferecer as vagas. “Eles
ofereciam [as vagas] até para pessoas que viam nas ruas com apostilas no
braços. Muitos desses abordados disseram se sentir intimidados. Afinal,
estudavam há muito tempo e tinham medo de não passar. Com isso acabaram
aceitando a proposta”, disse.
“A PCDF vai chegar em
todos que fraudaram e que entraram pela porta dos fundos em concurso públicos.
Inclusive estamos abertos para quem quer evitar o constrangimento de ser
conduzido na frente de familiares ou de colegas de trabalho. Nossa sugestão é
que nos procurem antes que isso aconteça, porque temos algumas confissões que
explicaram todo o passo a passo”, acrescentou o investigador. Segundo Valente,
há “mais de 100 suspeitos praticamente confirmados. Alguns dos ouvidos,
inclusive, já confessaram o cometimento do crime”.
Em Goiás foi preso André
Luiz dos Santos Pereira, que teria comprado vaga para um dos certames. De
acordo com os delegados, André também está envolvido com o caso da moeda
virtual Kriptacoin, investigada no âmbito da Operação Patrik. “Depois de se
envolver com a quadrilha [para adquirir uma vaga em concurso público], André se
interessou e passou a ajudar Ortiz, também aliciando outros candidatos. Mais
recentemente, ele atuou de forma mais próxima a Ricardo. André cresceu nessa
organização. Inclusive parte do dinheiro obtido por ele com a fraude em
concursos foi investida na Operação Kriptacoin”, informou o delegado Valente.
De acordo com a PCDF,
foram pedidos cinco mandados de prisão preventiva, três de prisão temporária e
oito conduções coercitivas. Também estão sendo feitas buscas em 16 endereços
localizados em Goiânia e em cinco regiões do DF. A primeira fase da Operação
Panoptes foi deflagrada em agosto.
0 Comentários