Em entrevista, Enio Lins compara ataques à prática nazista de repetir mentiras até que virem verdades
Recentemente, o governador Renan Filho (MDB) vem sendo alvo de ataques cibernéticos. As postagens, ao que parece, têm basicamente a mesma origem e formato, todas com o intuito de desmontar o trabalho e a narrativa de combate à pandemia de covid-19, além de a imagem do próprio chefe do Poder Executivo estadual.
À reportagem, o secretário de Estado da Comunicação Enio Lins aponta o alinhamento das publicações com as do “gabinete do ódio”, atribuído a Jair Bolsonaro (sem partido). De todo modo, Enio Lins, que também é jornalista, enfatiza que o Governo do Estado mantém seu foco em busca de esclarecer à população sobre os riscos da Covid-19 e da importância de cumprir o isolamento social. Esta medida, aliás, motivadora dos ataques a Renan Filho.
Contudo, de acordo com o secretário de Comunicação do Governo do Estado, a passeata contra o isolamento, marcada para esta quarta-feira (20) – data em que encerra o decreto de isolamento em vigor –, encontra-se numa “área de penumbra” legal e, por isso, não haverá ordem governamental para barrar a manifestação.
Ex-vereador e militante político de longa data, Enio Lins deixa no ar enxergar interesses eleitorais por trás dos ataques a Renan Filho, mas, devido a sua condição de secretário, evita falar sobre isso. Mesmo assim ele compara as postagens com a prática da comunicação nazista de repetir uma mentira até se tornar verdade. “Ou seja, uma mentira repetida incessantemente mata a verdade”.
Tribuna Independente – Há algum levantamento da origem das postagens dessa campanha do ódio contra o governador?
Enio Lins – Ainda não, mas são de perfis normalmente alinhados com postagens do chamado “Gabinete do Ódio”, personagens locais e externos enciumados com o sucesso de quem essas figuras detestam gratuitamente.
Tribuna Independente – Foi identificada participação de segmentos bolsonaristas? Quem comanda esse gabinete do ódio aqui?
Enio Lins – Procuramos não perder tempo com essas provocações e sim focar no trabalho que temos de fazer pela melhor e mais ampla comunicação governamental. Nossa preocupação central desde quando foi confirmada a pandemia é com campanhas para esclarecimento dos protocolos de enfrentamento ao coronavírus. Informar a população sobre regras a seguir, apresentar os novos hospitais e centrais de triagem. Os órgãos policiais têm se posicionado e aberto inquéritos como no caso de um empresário que ameaçou dar um tiro no governador. Outros mais estão em andamento.
Tribuna Independente – A polícia não pode fazer cumprir o decreto e impedir a manifestação convocada para esta quarta?
Enio Lins – O decreto trata de aglomeração. As carreatas, apesar do desserviço à cidadania, da divulgação de conceitos equivocados sobre como se enfrentar à pandemia, transitam numa área de penumbra, posto que apesar da mensagem provocativa, verdadeiro atentado à saúde pública, não está proibido o desfile de veículos.
Tribuna Independente – O Ministério Público Estadual (MPE) já foi acionado para pedir intervenção da Justiça?
Enio Lins – Há sempre um debate sobre essa questão, mas não é o tema prioritário para o momento, acho eu. Creio que as propostas equivocadas que mobilizam esse tipo de desfile precisam ser combatidas com firmeza no campo das ideias. Considero até que esse tipo de proposição irresponsável, histérica, odiosa, se desgasta a cada movimento deste tipo. De toda forma, acataremos o decidido pelas autoridades judiciais.
Tribuna Independente – Evidentemente há interesses eleitorais por trás da campanha, muito possivelmente com união de forças mais retrógradas – aí incluem os bolsonaristas do PSL e grupos ligados a JHC e Cia. Há algum levantamento ou indício disso?
Enio Lins – Não me é correto, enquanto secretário do Governo de Alagoas, entrar nessa seara da política partidária. Pessoalmente, como velho militante partidário, tenho minhas opiniões, mas não posso confundir o momento de as expressar. Agora estou falando pela Secom, enquanto auxiliar do governador, portanto. E a orientação correta é ficarmos, enquanto membros do governo estadual, fora das questões ligadas às eleições.
Tribuna Independente – A Delegacia de Crimes Cibernéticos diz que tem recursos para identificar a origem das postagens do Gabinete do Ódio. Isso está sendo feito? O governador já pediu?
Enio Lins – Os crimes cibernéticos são seara nova, e muito importante. É um novo campo do exercício dos direitos da cidadania. Estamos trabalhando todas as formas de defesa da verdade e de combate às fake news, calúnias e difamações. Mas a maioria dos casos, a meu ver, deve tramitar com mais calma e menos alarde, mais lei e menos mídia.Temos, no campo do jornalismo propriamente dito, uma equipe trabalhando exclusivamente em mapear, pesquisar e responder às fake news, mas confesso que a turma está sobrecarregada, pois a disseminação da mentira, da calúnia e da difamação foi elevada à categoria de grande indústria.
Tribuna Independente – Na avaliação do governador, qual o intuito da campanha do ódio?
Enio Lins – Não posso responder isso pelo governador. Em minha opinião, é uma versão digital, contemporânea, da política terrorista nazista implementada por Joseph Goebbels, ministro de Propaganda do Reich e comandante do gabinete de ódio do Hitler. Destruir as imagens dos adversários via calúnias e difamações era a meta. Goebbels dizia, e praticava intensamente, que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Ou seja, uma mentira repetida incessantemente mata a verdade.
Fonte: Tribuna Independente
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