O
movimento antivacinas é criminoso e uma séria ameaça crescente à saúde global.
Existe sim um movimento antivacinas crescendo no Brasil, então não podemos
ignorar.
Um artigo publicado no dia 10/09/2020 na revista
The Lancet, envolvendo 284.381 pessoas em 149 países, mostra que o movimento
antivacinas, o extremismo religioso, a instabilidade política, o populismo, as
fake news e questões como segurança podem prejudicar as campanhas de vacinação
em massa e a confiança nas vacinas em países com esses problemas.
As vacinas, saneamento básico, esgoto tratado e
água potável são nossas melhores ferramentas de saúde pública.
As vacinas são responsáveis pelo aumento da
nossa expectativa de vida, foram as principais responsáveis pela diminuição da
mortalidade infantil e são um marco na história da saúde humana. As vacinas
salvam cerca de 3 milhões de pessoas por ano, ou 5 pessoas a cada minuto.
No
Brasil dos anos 1950, cerca de 10% das crianças morriam antes dos primeiros
cinco anos de vida. Doenças como sarampo, poliomielite, catapora, caxumba,
rubéola, tétano, difteria, rotavírus, coqueluche, estavam controladas. A
varíola foi erradicada em 1980.
Segundo dados do Programa Nacional de Imunizações para 2019, após 20 anos, o
Brasil observa uma queda da cobertura vacinal de crianças e não atinge a meta
para as principais vacinas indicadas para crianças de até 2 anos de idade.
Dados
do Sistema Nacional de Imunização (base Datasus), mostram que a taxa de
abandono para nove vacinas no Brasil, como a meningocócica C (duas doses), a
tríplice viral (em duas doses contra sarampo, rubéola, caxumba) e a
poliomielite (três doses), cresceu cerca de 48% nos últimos cinco anos.
A cobertura vacinal contra poliomielite no país era de 96,5% em 2012 e foi
86,3% em 2018, sendo que o índice de vacinação de 2019 é o pior desde o ano
2000.
A vacina eliminou o sarampo da população brasileira, mas esse foi reintroduzido
no país e em 2019 tivemos cerca de 18 mil casos em 526 municípios em 23
Unidades da Federação, com 15 óbitos.
São contabilizadas nas estatísticas de abandono, também, as crianças que
tomaram uma dose inicial de determinada vacina, mas não voltam para tomar as
doses seguintes.
Esses dados são preocupantes e evidenciam a necessidade de que precisaremos de
intensa mobilização para ampliar a cobertura vacinal para a Covid-19 no Brasil.
A queda na cobertura pode ter várias razões, desde o subfinanciamento das
prioridades de saúde pública, questões logísticas como aquisição e
distribuição, ausência de campanhas de conscientização da população.
Essa
redução na cobertura vacinal pode ter sido influenciada também pelo sucesso do
programa nacional de imunizações no país, visto que eliminamos algumas das
principais doenças e à dificuldade de acesso das famílias aos serviços
essenciais de saúde.
Precisamos ter informação científica de qualidade disponível, didática,
acessível, com linguagem clara para combater o movimento antivacinas e
negacionista crescente no país, principalmente neste momento de polarização
política.
Precisamos de pessoas que multipliquem as mensagens e informações corretas
sobre a importância da vacinação contra a Covid-19.
Entre as razões que vem sendo levantadas nas redes sociais pelos grupos
antivacinas estão teorias de conspiração, alterações de DNA, Bill Gates, chips
nas vacinas, que elas causam autismo, contém mercúrio, fetos abortados, perigo
e ineficácia das vacinas e muita gente está lendo essas mentiras.
Nós precisamos iniciar uma campanha de engajamento e preparação da população
brasileira e da infraestrutura dos SUS para combater este movimento
antivacinas, não deixar crescer.
É preciso incentivar e levar uma mensagem clara para a população brasileira
sobre a necessidade e importância da vacinação em massa contra a
Covid-19.
Temos que agir em
várias frentes, a tarefa será complexa, complicada e não podemos demorar para
agir, se queremos evitar que os grupos antivacina comecem a espalhar mentiras e
fake news nas redes sociais sobre as vacinas contra o novo coronavírus.
A
expansão das teorias de conspiração sobre a vacinação também se relaciona com
problemas de comunicação entre pesquisadores, cientistas, médicos e outros
profissionais da saúde com a sociedade.
Luiz
Carlos Dias, professor Titular do Instituto de Química da Unicamp.
Esse
texto foi publicado originalmente com o título Movimento antivacinas: uma séria ameaça à saúde
global.
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