Monitoramento da Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual de Alagoas (Ravvs/AL) apontam que a falta de apoio de amigos e familiares, a vergonha da sociedade e o medo do agressor estão entre as principais causas para as vítimas não denunciarem os casos de violência sexual. No entanto, a partir de agora, em Alagoas, sem precisar sair de casa e se expor, os abusos podem ser denunciados, de forma rápida e ágil, por meio do smartphone, com o aplicativo (app) Fique Bem, lançado nesta segunda-feira (23) pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), durante cerimônia realizada no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, no bairro Jaraguá, em Maceió.
Com esta iniciativa, a Sesau tem o propósito de reduzir a subnotificação das denúncias em Alagoas, que corresponde a 30% dos casos, segundo aponta o Ministério da Saúde (MS). Esta triste realidade ocorre porque a maior parte das vítimas de violência sexual está na adolescência e, na sua maioria, sofre o abuso no ambiente familiar, o que acaba contribuindo para que percam a coragem de procurar ajuda e revelar o abuso às autoridades de segurança e saúde públicas, seja em razão da pouca idade ou por serem dependentes psicológica e financeiramente do agressor.
Esta situação é comprovada pelos dados apresentados (Ravvs/AL), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, e que funciona no Hospital da Mulher, em Maceió, por meio da Área Lilás. Para se ter ideia, dos 561 casos de abuso sexual denunciados no período de janeiro a outubro deste ano, 421 foram relacionados a adolescentes, o que corresponde a 81% de todas as notificações. Percentual considerado alarmante e, segundo a coordenadora da Ravvs, psicóloga Camille Wanderley, deve ser ainda maior, principalmente neste período de pandemia, onde as pessoas ficaram em isolamento social.
“Por esta razão, o app Fica Bem vai ajudar a quebrar a corrente de medo que afeta as vítimas de violência sexual em Alagoas. Percebemos que grande parte das denúncias feitas pelas crianças e adolescentes, em especial, ocorre graças ao apoio das escolas, mas, em razão da pandemia, quando o contato com os professores foi suspenso, essas vítimas perderam a referência e, por isso, o aplicativo vem suprir também essa lacuna. Para isso, o dispositivo proporciona, inclusive, pedir socorro, bastando apenas acionar um botão, que é interligado com a Secretaria de Estado da Segurança Pública”, salientou Camille Wanderley.
Além da Área Lilás do Hospital da Mulher, que atendeu 450 das 561 vítimas de violência sexual notificadas este ano, a assistência às vítimas de violência sexual ocorre no Hospital Geral do Estado (HGE). Já no interior, o atendimento é realizado no Hospital Ib Gatto Falcão, em Rio Largo, e no Hospital de Emergência do Agreste (HEA), em Arapiraca. O secretário Alexandre Ayres, titular da Sesau, classifica essa rede de apoio e atendimento como humanizada. Para ele, o app Fica Bem trará soluções ágeis e simples para quem necessita denunciar crimes de abuso sexual.
“O Fica Bem mostra que os grandes problemas têm soluções simples. Por meio deste aplicativo, que pode ser acessado através do celular, as vítimas terão, ao alcance de suas mãos, uma ferramenta para denunciar os abusos sofridos. Com isso, a Sesau e o Cemac estão promovendo uma quebra de paradigmas, através de um dispositivo simples, mas, com grande alcance social, que irá levar o abusador a refletir no momento de praticar o delito, porque as crianças e adolescentes estão cada vez mais antenadas com as novas tecnologias”, ressaltou Alexandre Ayres.
Fruto de um projeto de mestrado do Curso de Pesquisa em Saúde do Centro Universitário Cesmac, o aplicativo mostra, conforme o pró-reitor de Extensão da unidade, como a tecnologia pode ser aliada no combate à violência sexual. “A relevância de uma instituição de ensino é comprovada por aquilo que ela produz e, desde 2012, colocamos no mercado profissionais qualificados, que produzem pesquisas de grande importância social, a exemplo do Fica Bem, que trará grande impacto na assistência às vítimas de violência sexual em Alagoas, possibilitando que as autoridades de saúde e segurança pública possam garantir apoio integral a estas pessoas violentadas”, enfatizou.
Para o desembargador Tutmés Ayran, presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), o aplicativo Fica Bem preenche uma lacuna no processo de combate à violência sexual em Alagoas e mostra a importância da parceria entre a academia e o Sistema Único de Saúde (SUS). “Nós do Judiciário alagoano, nos deparamos com histórias terríveis de violência sexual, praticadas, inclusive, por pessoas que deveriam proteger as vítimas. Por esta razão, é importante percebermos que o Cesmac e a Sesau estão disponibilizando a sociedade uma ferramenta ágil e eficaz para denunciar os autores de abusos sexuais”, enalteceu.
Como baixar e acessar – No primeiro momento, o aplicativo Fica Bem está disponível à população para ser baixado em smartphones com a funcionalidade Android, e posteriormente, poderá ser acessado pelo sistema operacional iOS. Assim que for baixado no smartphone, ele pode ser utilizado facilmente, necessitando, apenas, que o usuário realize um cadastro.
Na sequência, irá aparecer um menu com informações sobre como fazer denúncias de violência sexual, possibilitando que o denunciante informe, por meio de um formulário, os dados da vítima e o grau de violência sofrido. Além da denúncia online pelo Fica Bem, a vítima poderá acionar a Secretaria de Estado da Segurança Pública e a Ravvs e se informar sobre as unidades de saúde referência para atendimento e localização dos hospitais.
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