O presidente nacional do DEM, ACM Neto, até tem se esforçado para tentar manter um distanciamento regulamentar do governo de Jair Bolsonaro. Porém há uma confluência de fatos que reforçam o argumento contrário. Isso vem desde o segundo turno das eleições de 2018, mas acabou intensificado com a disputa pela eleição da Câmara dos Deputados e com a possibilidade de João Roma assumir o Ministério da Cidadania. Algo que será muito bem utilizado pelos adversários dele em 2022 na Bahia, maior reduto petista do Brasil.

 

A aproximação entre o DEM e Bolsonaro sempre existiu. Uma linha muito tênue buscava deixar a legenda fora da zona de influência no governo, mesmo que Onyx Lorenzoni, Tereza Cristina e Luiz Henrique Mandetta tivessem embarcado na Esplanada ainda no começo da gestão. O ex-ministro da Saúde virou inimigo, porém os outros dois seguem “queridinhos” do presidente e também do centrão, originado também no antigo PFL. Ou seja, um pé na antessala do Planalto o partido já tinha.

 

Veio a eleição na Câmara e a adesão quase que formal da bancada do DEM à candidatura bolsonarista de Arthur Lira (PP-AL). Governistas de ocasião - menos se o governo for de esquerda, pois isso aconteceria apenas por baixo dos panos -, os deputados federais não se preocuparam em fingir o afastamento pregado por ACM Neto. Mesmo que esse posicionamento significasse impor uma derrota humilhante ao correligionário Rodrigo Maia, que, ferido, insiste em atacar os antigos aliados.

 

O golpe de misericórdia nesse discurso de que o ex-prefeito de Salvador não mantém relações com o governo, todavia, não se rascunha a partir do DEM. É a indicação de João Roma para um ministério, com o aval do Republicanos. A conta pode não ficar para ACM Neto em Brasília, porém a chegada do ex-chefe de gabinete dele ao governo inviabiliza o esforço para mostrar afastamento. Roma tenta carreira-solo e pode até ter méritos para tanto. No entanto, é indissociável, para a Bahia, as figuras de criador e criatura – mesmo porque o capital eleitoral do deputado federal não existiria sem a ajuda de ACM Neto.

 

Para um candidato ao governo no estado mais antibolsonarista do Brasil, essa proximidade com o Planalto pode servir como areia numa engrenagem. Aí reside o pedido do ex-prefeito para que Roma não aceite ser ministro. Como se não bastasse apanhar pelos atos de correligionários, inclusive do ex-amigo Rodrigo Maia, ACM Neto pode ser apunhalado pelo padrão ambicioso do herdeiro do padre pernambucano. Depois de deixar a prefeitura numa maré de sorte, esse ciclo eleitoral recém-iniciado não parece deixá-lo sossegar.