Em artigo publicado no periódico estadunidense, Terrence McCoy narrou sua experiência em contrair Covid no Brasil e se deparar com o discurso bolsonarista do "tratamento precoce", que não tem eficácia contra a doença, por parte de um médico; "O mito continua"




O discurso charlatanista de Jair Bolsonaro com relação à inexistente cura da Covid-19 virou destaque na imprensa internacional a partir de um artigo escrito por Terrence McCoy, correspondente do jornal estadunidense Washington Post no Rio de Janeiro.

No artigo publicado no periódico, em inglês, neste sábado (13), McCoy revelou que ele e a esposa foram infectados pela Covid no Brasil e, ao procurarem ajuda médica, se depararam com o discurso bolsonarista do “tratamento precoce”, que não tem eficácia contra a doença: o médico os receitou ivermectina, vermífugo que, além de não ser recomendado contra a doença do coronavírus, pode trazer riscos a quem o consome.

A substância é uma das que Jair Bolsonaro defende no tratamento da Covid, ao lado da cloroquina. Especialistas de todo o mundo alertam que não há, atualmente, nenhum medicamento eficaz contra a doença e os remédios defendidos pelo presidente brasileiro e adotados em protocolos do Ministério da Saúde são rechaçados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Ansiosos e inseguros, recebemos a azitromicina e a ivermectina, e caímos em um plano de tratamento para o coronavírus, que varreu o país, apesar das escassas provas científicas. O ‘plano de pílulas’ enviou milhões às farmácias e entrou nas diretrizes do governo federal”, escreveu o jornalista, detalhando que o médico em questão ainda teria alertado que ele precisaria “começar o tratamento logo”.

Ao longo do texto, McCoy contextualiza o leitor de toda a narrativa em torno do “tratamento precoce” defendido por Bolsonaro e traz informações sobre cidades que adotaram o método do governo e que, mesmo assim, tiverem mais casos de Covid que cidades que não adotaram.

“Nenhuma pílula salvou o Brasil de enterrar mais de 230.000 pessoas. O criador do Covid Kit, médico mato-grossense, morreu de covid-19 em setembro”, alertou o jornalista.

Ele conta que, receoso com a recomendação do primeiro médico, procurou outro profissional de saúde, que desaconselhou ou uso das substâncias.

“Emily e eu estávamos convencidos. Paramos de tomar os comprimidos. Em vez disso, focamos no descanso, nos líquidos e na televisão ruim. Mas depois de algumas semanas – e uma perda desorientadora de paladar e cheiro – estávamos praticamente recuperados. Apesar de todas as preocupações com o sistema hospitalar, nenhum de nós nunca ficou doente o suficiente para pensar em ir a um hospital”, relatou.

“Foi a ivermectina? Quase certamente não (…) Mas o mito continua”, completou o correspondente.