Relatório final da Polícia do Senado foi encaminhado ao MPF, que agora decidirá se denuncia ou não o olavista
A Polícia do Senado enviou ao Ministério Público Federal (MPF), nesta terça-feira (4), o relatório final das investigações sobre um gesto feito pelo assessor de assuntos internacionais do governo Bolsonaro, Filipe Martins. Em 24 de março, durante audiência no Senado, Martins fez um gesto considerado alusivo à “supremacia branca”, um movimento racista de extrema-direita com atuação mundial mas, principalmente, nos Estados Unidos.
Em momento que aparecia nas câmeras, o assessor fez com as mãos um gesto que parece remeter ao símbolo “WP”, em referência a lema “white power” (“supremacia branca”). O gesto feito por ele parece ter como objetivo incitar grupos de supremacia branca, atitude conhecida como “dog whistle” (“apito de cachorro”, em português). Para se justificar, o assessor usou uma resposta pronta, já que a forma como o gesto é feita se dá justamente para abrir margens a outras interpretações: “Estava ajeitando a lapela do terno”, disse.
Apesar dessa alegação do assessor, as investigações concluíram que Martins fez, sim, um gesto com conotação racista e, por isso, ele foi indiciado no artigo 20 da lei 7.716/1989, que prevê reclusão de uma a três anos e multa para o crime de “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Há, ainda, o agravante do artigo que prevê agravamento da pena, que pode chegar a 5 anos de reclusão, caso os crimes sejam cometidos através de meios de comunicação social, como foi o caso de Martins.
Agora, caberá ao MPF oferecer denúncia contra o olavista ou não.
“Não foi coincidência”
“Ele [Filipe Martins] fez um sinal de supremacia branca enquanto arruma o terno. É muito difícil ele dizer que não sabe o que está fazendo. É um sinal de supremacia branca. É um sinal que é usado como senha em diversos grupos, como o Proud Boys”, disse à Fórum a antropóloga Adriana Dias, que é doutora em antropologia social pela Unicamp, pesquisa o fenômeno do nazismo e atua como colunista.
Para o jornalista alemão Niklas Franzen, que atualmente escreve para veículos de Berlim, o gesto do assessor de Bolsonaro “não foi uma coincidência”. “Todo mundo viu que a intenção ficou clara, queria passar uma mensagem. Não foi a primeira vez que o Filipe Martins se pronunciou daquele jeito”, disse Franzen em entrevista à Fórum, citando outros episódios parecidos envolvendo Martins como quando ele, por exemplo, postou em seu Twitter um dos lemas do grupo neonazista alemão Combat 18 – C18 ou 318 –, suspeito de envolvimento no assassinato de diversos imigrantes, negros e um político.
Segundo o repórter, que tem relação próxima com o Brasil e escreve regularmente para veículos brasileiros, “quando a gente discute sobre a extrema-direita, a gente tem que levar em conta que é uma tendência global”. “Mesmo com o fato de que a Alemanha tem leis mais rígidas [para coibir manifestações da extrema-direita], nós temos um movimento muito forte de neonazismo e especialmente de terrorismo neonazista”, revelou, citando casos recentes de ataques promovidos por grupos racistas e neonazistas contra imigrantes na Alemanha.
O jornalista analisa que as táticas que vêm sendo usadas pela extrema-direita ao redor do mundo são parecidas e que se refletem em gestos como o feito por Filipe Martins, que é um representante institucional. Ele citou o exemplo do AFD (“Alternative für Deutschland” – em português, “Alternativa para a Alemanha”), partido de extrema-direita alemão que tem representação parlamentar e cujo vários membros têm ligações com organizações neonazistas.
“Nós temos aqui um partido no parlamento o AFD, são ‘amiguinhos’ do Bolsonaro, há várias conexões entre o governo Bolsonaro e esse partido, que também faz as mesmas coisas que o Filipe Martins. Talvez não daquela maneira, mas eles sempre experimentam com os limites, para onde podem ir com suas falas e discursos”, pontuou.
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