Segundo o pesquisador Carlos Fico, responsável pela compilação de áudios, os próprios ministros do STM faziam "piadas" com as vítimas da Ditadura: “morreu mesmo e está enterrado”
A divulgação de áudios inéditos que comprovam que o Superior Tribunal Militar (STM) sabia da tortura a mulheres grávidas durante a Ditadura foi motivada pelo ataque que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) fez com o que houve com a jornalista Miriam Leitão, da Globo, que foi presa pelo regime autoritário juntamente com uma cobra quando estava grávida.
A divulgação dos áudios foi feita pela própria jornalista no jornal O Globo e no programa Fantástico nesse domingo (17).
O material está sendo compilado pelo historiador e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Fico, que explicou ao jornal Extra, o motivo de tornar público os áudios.
"É importante que o estado e que as autoridades se manifestem sempre em defesa dos direitos humanos, e é o que a gente não tem desde a eleição do atual presidente. É preciso sempre, permanentemente, defender os direitos humanos, coisa que o governo Bolsonaro não faz. Em todos os governos, mesmo os mais conservadores, como Collor e Sarney, mais ao centro como o FHC e à esquerda com Lula, todos defenderam os direitos humanos. Tem o ineditismo do governo Bolsonaro, que é péssimo para sociedade porque afloram esses sentimentos de negacionismo", disse o pesquisador.
Fico diz que o deboche da tortura ocorria já durante a ditadura. Segundo ele, áudios mostram que os próprios integrantes do STM faziam "piadas" a respeito dos torturados.
"Sobretudo em sessões secretas, esses ministros se sentiam muito confortáveis. Tem falas muito pesadas, grotescas, piadas com vítimas de tortura", disse.
O pesquisador disse que "os ministros tinham consciência de que acontecia, e ficavam muito desconfortáveis quando a tortura era praticada por oficiais militares".
"Havia esse negacionismo. A ditadura tentou evitar a confirmação da existência de tortura o quanto pode, tanto que o maior número de proibições da censura é de casos de repressão", conta.
Mesmo assim, os ministros militares faziam chacota com as vítimas.
"Esses ministros eram naturalmente inseridos nesse contexto autoritário, nessa ideologia extremista, segundo a qual era preciso reprimir e acabar com a subversão, com o que eles chamavam de subversivo. Em vários momentos, comentários muito inadequados eram feitos. Ouvia coisas dessa natureza, coisa como “morreu mesmo e está enterrado”. Isso é uma frase que eu me lembro".
Miriam Leitão torturada
Em publicação nas redes no dia 3 de abril, Eduardo Bolsonaro debochou da tortura sofrida por Miriam Leitão, dizendo que estava "ainda com pena da cobra.
A postagem faz referência à tortura sofrida pro Miriam Leitão durante a ditadura militar. Grávida, a jornalista foi colocada nua em um quarto escuro junto com uma cobra jiboia.
Após a repercussão negativa do caso, o filho de Jair Bolsonaro (PL) colocou em dúvida a tortura sofrida pela jornalista.
“A Miriam Leitão certamente não se sentiu ofendida, ela só tem a palavra dela, dizendo que foi vítima de uma tortura psicológica quando foi jogada dentro de uma cela junto com uma cobra. Eu já fico com a pulga atrás da orelha, porque você não tem um vídeo, não tem outras testemunhas, não tem uma prova documental, não tem absolutamente nada”, disse o deputado.
Por revistaforum.com.br
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