Homem largou emprego no MS e passou a 'viver' em acampamentos após 2º turno. A mãe diz que mesmo desempregado, o rapaz viajava, comia e bebia com tudo pago. A mulher conta que o filho viu em Bolsonaro alguém para seguir, mas não soube distinguir a vida pessoal do extremismo golpista. "Ele dizia: 'Eu prefiro morrer do que não defender Bolsonaro'. Na última ligação [antes da invasão], eu pedi para ele não ir, mas ele retrucou e disse: 'os policiais estão do nosso lado'". Hoje completa 1 mês que ele está na Papuda
Relatos de pessoas que passaram a não reconhecer mais seus familiares após o 2º turno da eleição presidencial não são raros. Os acampamentos bolsonaristas montados para contestar o resultado da eleição serviram para recrutar e radicalizar pessoas.
O Pragmatismo mostrou recentemente que pais, mães, irmãos e filhos já revelaram que perderam seus entes queridos para o extremismo. Relembre alguns casos:
1. “Minha irmã participou dos atos golpistas em Brasília e gostaria que ela fosse presa”
2. “Minha filha foi presa após trocar medicina na USP por atos golpistas”
3. Vizinhos dizem que Fátima de Tubarão virou ‘patriota’ do dia para a noite
Nesta quarta-feira (8), em depoimento ao portal g1, mais uma mãe relatou a dor de perder o filho para o radicalismo bolsonarista. “O que me entristece é que parece que foi feita uma lavagem cerebral no meu filho. Não dava para entender nada. Eu nunca vi um negócio como esse, era muito intensa [a mudança de comportamento”.
O homem, que hoje está preso na Papuda (DF), largou o trabalho no interior de Mato Grosso do Sul e começou a “viver” em acampamentos bolsonaristas a partir do segundo semestre de 2022.
“Ele saiu do trabalho para ir para os acampamentos. Ele foi de uma cidade para outra. Depois, ele veio para a capital [Campo Grande]. Aqui, ele chegou com tudo pago: passagem de ônibus e até carro por aplicativo. Isso tudo e ele já estava desempregado. Ele saiu do serviço e veio viver nos acampamentos”.
O contato já não era o mesmo, e a distância foi sentida pela mãe. As conversas com o filho eram sempre levadas para o tom político extremista. A mãe do rapaz diz que ele viu no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) alguém para seguir, mas não soube distinguir a vida pessoal do extremismo golpista.
“No fim do ano, quando ele me ligou, já estava havia duas semanas no acampamento na minha cidade. Eu senti uma diferença muito grande. Saímos para ir ao mercado, mas ele estava bem diferente. Me falaram que ele estava louco. Acho que ele não chegou a ficar louco”.
A rotina da mãe do preso é intensa. Ela sai cedo para o trabalho, enfrenta transporte público coletivo e chega em casa só à noite. Para ela, o filho ter saído do emprego para viver nos acampamentos bolsonaristas não tem sentido.
“Meu filho conseguiu muita mordomia. Ele estava desempregado em Brasília. Foi um choque quando ele me ligou e falou que ia sair do serviço e ir para o acampamento dos bolsonaristas. Eu falei para ele ‘cara, você tá louco, o que você tá fazendo aí?'”.
A mãe explica que o rapaz nunca foi ‘ligado’ em política e sequer tinha o título atualizado para votar. “Meu filho era relaxado até com voto, não tinha o documento. Eu acho que ultimamente ele nem votou. Como uma pessoa que nem vota diz que vai defender o Brasil? Como?”.
Segundo a mãe do preso, o filho foi três vezes a Brasília com todas as despesas pagas. Na última vez, o rapaz chegou em 6 de janeiro, dois dias antes dos ataques prédios públicos dos Três Poderes.
“Quando foi na sexta-feira, dia 6 de janeiro, meu filho me ligou avisando que iria para Brasília. Ele disse que ia para Brasília para ‘’defender o país’. Eu disse para ele: ‘larga a mão, não faz isso, você não precisa ir lá para Brasília’. Ele respondia: ‘eu prefiro morrer do que não defender Bolsonaro e meu país’”.
“Pela última vez, ele me ligou e eu avisei, pedi para ele não ir. Falei que ia ser perigoso, mas ele retrucou e disse: ‘os policiais estão do nosso lado, não tem problema nenhum. Eles são nossos amigos e estão dando apoio’”.
Até então, a última notícia que a mãe teve do filho golpista foi a da ligação de 9 de janeiro, quando informaram sobre a prisão por envolvimentos nos atos antidemocráticos. Um mês após, a mãe ainda busca na memória uma explicação para as atitudes do filho.
“Eu sinto um aperto muito grande no coração, meu coração está despedaçado. Eu não me acho culpada porque eu nunca o incentivei. Me matei e me sacrifiquei para criar um filho sozinha e, no fim, aconteceu isso”, desabafa.
Por pragmatismopolitico.com.br
0 Comentários