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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve embarcar neste domingo (26) para a China, onde vai cumprir agendas ao longo de toda a próxima semana. Estão previstas no roteiro reuniões com autoridades políticas de Pequim, visitas a fábricas e encontros empresariais.

A agenda mais esperada para auxiliares do chefe do Executivo é a reunião bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping. Estará em jogo no encontro a principal ambição de Lula no cenário internacional: apresentar-se como facilitador de um diálogo pela paz na guerra da Ucrânia contra a Rússia, que já dura mais de um ano e tem impacto direto sobre a economia global.

A viagem estava inicialmente programada para a manhã deste sábado (25). No entanto, Lula passou mal ao retornar do Rio de Janeiro, deu entrada em um hospital de Brasília e foi diagnosticado com uma pneumonia leve. Dessa forma, a partida foi adiada para o domingo (26).

O ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Paulo Pimenta (PT), descartou a hipótese de cancelamento da viagem a Pequim. Lula deve perder apenas o primeiro dia da agenda internacional, que é o Fórum Brasil-China de Desenvolvimento Sustentável. Os encontros com autoridades do país asiático estão mantidos.

Segundo a Folha de S.Paulo apurou, o governo brasileiro já recebeu a sinalização positiva dos chineses de que Xi Jinping está disposto a tratar da situação na Ucrânia com Lula, no encontro previsto para o dia 28.

A posição chinesa é considerada fundamental por Lula. O petista já conversou sobre o assunto em encontros com líderes ocidentais, como os governantes da Alemanha (Olaf Scholz), dos Estados Unidos (Joe Biden) e da França (Emmanuel Macron).

A receptividade desses líderes, no entanto, tem sido fria. Foram visíveis, por exemplo, divergências entre Lula e Scholz sobre o tema durante visita do alemão a Brasília, no início do mandato do petista.

Macron, por sua vez, respondeu a uma publicação de Lula no Twitter convidando o brasileiro a discutir a crise internacional com base na proposta de dez pontos do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski —uma lista de exigência tida como inaceitável por Moscou, por envolver não só a devolução de território como o estabelecimento de um tribunal especial para julgar crimes de guerra da Rússia.

Diante desse cenário, um respaldo da China de que Lula pode ser um interlocutor no processo é considerado fundamental para a diplomacia brasileira. Pequim é visto hoje como um dos únicos atores na arena global com condições concretas de influenciar o líder russo Vladimir Putin.

A China divulgou no final de fevereiro um genérico plano de paz para a crise na Ucrânia na data que marcou o primeiro aniversário da invasão da Rússia. A proposta, no entanto, foi recebida com extremo ceticismo pelo Ocidente, que vê em Xi o principal aliado da Rússia.

Além do mais, EUA e aliados têm ressaltado que qualquer solução que envolva apenas um cessar-fogo é inaceitável por significar, na prática, incorporação à Rússia de território ucraniano ocupado.

O governo brasileiro não possui propriamente um plano de discussões de paz e vem se vendendo como um possível “facilitador”, para colocar as partes envolvidas em uma mesa de negociação. Lula defende que é preciso tratar do tema em um clube de países não envolvidos nas hostilidades, que forneceriam as condições para mediar a conversa entre os beligerantes.

Até agora, governo brasileiro não recebeu nenhuma sinalização americana de que poderia apoiar uma iniciativa brasileira para mediar o conflito no Leste Europeu.

Auxiliares palacianos rebatem o ceticismo em torno do projeto de Lula e dizem que há repercussões políticas concretas desde que o petista se colocou na posição de possível mediador, antes mesmo do início do seu governo.
Na China, Lula terá outras duas reuniões políticas centrais: com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji.

A comitiva brasileira deve contar com cerca de 240 empresários de diferentes setores. Há quase cem representantes do agronegócio inscritos, para ficar no setor mais dinâmico da relação comercial entre Brasil e China. Nesta quinta-feira (23), a três dias da viagem de Lula, o país asiático decidiu retomar a compra de carne bovina brasileira, que estava suspensa desde o fim de fevereiro devido a um caso atípico do mal da vaca louca.

Renato Machado e Marianna Holanda / Folhapress