Moraes negou o terceiro pedido da defesa do ex-presidente para dispensá-lo da oitiva simultânea. Segundo a PF, Bolsonaro seria o líder da facção que tramou e colocou em marcha um frustrado plano de golpe de Estado
Bolsonaro em pronunciamento em novembro de 2022, em meio à trama golpista. Ao fundo, Mauro Cid.Créditos: Isac Nóbrega/PR |
Jair Bolsonaro (PL) e mais 13 membros da organização criminosa golpista, segundo a Polícia Federal (PF), prestarão depoimento simultâneo na tarde desta quinta-feira (22) após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negar pela terceira vez um pedido da defesa para adiar a oitiva do ex-presidente.
Para Moraes, "as situações fática e jurídica não foram alteradas, permanecendo a obrigatoriedade de comparecimento do investigado perante a Polícia Federal". A decisão foi divulgada na noite desta quarta-feira (21)
Segundo as investigações, Bolsonaro seria o líder da organização criminosa que tramou e colocou em marcha um frustrado plano de golpe de Estado no Brasil.
Alegando que não teve acesso aos autos do processo - o que foi desmentido por Moraes -, o ex-presidente deve permanecer em silêncio diante dos investigadores na sede da Polícia Federal em Brasília.
A estratégia dos advogados Paulo Cunha Bueno, Daniel Tesser e Fabio Wajngarten é que tanto o ex-presidente quanto os outros membros fiquem calados para evitar contradições.
A oitiva simultânea convocada pela PF se dá justamente para evitar que os depoentes combinem narrativas.
No entanto, os investigadores pretendem deparar os membros da facção com diálogos em grupos de aplicativos que mostram que o golpe chegou a ser desencadeado, mas foi frustrado diante da ação do governo Lula no 8 de Janeiro, que decidiu não convocar Estado de Sítio e, assim, não entregar o país à tutela dos militares.
"Se continuarmos"
Entre os diálogos que serão usados, está uma troca de mensagem entre Braga Netto e Sérgio Rocha Cordeiro, assessor de Bolsonaro que ficou preso até 8 de setembro passado.
Na conversa, em 27 de dezembro de 2022, Cordeiro pede a Braga Netto para enviar o currículo da esposa e recebe como resposta: "Cordeiro, se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda".
Para a PF, o "se continuarmos" dito por Braga Netto comprova que havia um plano de golpe de Estado em curso, já que o diálogo aconteceu três dias antes do fim do governo Bolsonaro.
Outro trecho que mostra que o golpe estava em execução é de uma conversa entre o tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o coronel Romão Corrêa Netto, que fazia a articulação do golpe com os chamados "kids pretos", as Forças Especiais do Exército.
Segundo a investigação, a conversa aconteceu em novembro de 2022, quando a facção teria tido ciência que não houve fraude nas eleições - mas seguiu com o plano golpista mesmo assim.
“Sou eu que vou levar McDonald’s pra você na cadeia”, escreveu Corrêa Netto para Cid.
“Estou no STF (Supremo Tribunal Federal)”, respondeu Cid, que estava com Bolsonaro em visita à corte, dois dias após o segundo turno, quando Lula já estava eleito. “Eu hein!”, respondeu Corrêa.
O coronel chegou a ser enviado por Bolsonaro para os EUA em "missão" até 2025, com as despesas pagas pelo Exército. Ele retornou no dia 11 de fevereiro, após ter a prisão decretada por Alexandre de Moraes, do STF.
As apurações revelaram que o militar intermediou uma reunião para selecionar oficiais com habilidades militares específicas, em novembro de 2022; redigiu uma carta de pressão destinada ao então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes; além de ter agido como homem de confiança em "missões" fora do Palácio da Alvorada.
As investigações também identificaram que Bernardo Neto atuava como braço direito de Mauro Cid e executava tarefas que o então ajudante de ordens da presidência da República não conseguiria desempenhar, por causa de sua posição no governo.
Além de Bolsonaro e dos quatro presos, prestarão depoimentos simultâneos, às 14h30 desta quinta:
- Walter Braga Netto
- Augusto Heleno
- Anderson Torres
- Paulo Sérgio Nogueira
- Almir Garnier
- Valdemar Costa Neto
- Marcelo Costa Câmara
- Tércio Arnaud
- Mário Fernandes
- Cleverson Ney Magalhães
- Ailton Barros
- Rafael Martins
- Sergio Cavaliere
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